Notícias do mercado imobiliário
Sanfona demográfica de um bairro
A cada fim de semana, São Cristóvão enche com quase 50 mil pessoas que frequentam a Feira Nordestina, o Jardim Zoológico, a Quinta da Boa Vista, entre atrações mais escondidas, como a feira da Cadeg (Centro de Abastecimento do Estado da Guanabara) e o Observatório Nacional.Até o fim deste mês, essa quantidade ainda praticamente dobra só com as festas juninas do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas - nome oficial da feira. E, se tem jogo do Vasco, são mais até 18 mil em São Januário. Moradores, porém, foram apenas 38.344, de acordo com dados da prefeitura sobre o Censo 2000 do IBGE.
Praticamente um ponto de turismo - inclusive para cariocas de outros locais -, o bairro imperial deve aumentar sua população em torno da Quinta, cheia de prédios em construção após a mudança o Plano de Estruturação Urbana (PEU), aprovado em 2004.
Dentro da Quinta, a tradutora Amanda Orlando, de 28 anos e "turista" do Grajaú, saíam, na sexta-feira, do Museu Nacional, onde levou, para "relembrar a infância", a amiga Paula Stolerman, também de 28, atualmente morando em Rondônia.
No mesmo horário, a Feira de São Cristóvão já estava no período de atividade iniciado às 10h de sexta e que só acabará as 22h de hoje.
- Em junho e julho do ano passado, a gente fez 1 milhão de pessoas. Nesse ano, só no primeiro mês já foram umas 500 mil, a grande maioria é nos fins de semana - conta Carlos Botelho, o Marabá, diretor cultural do Centro de Tradições Nordestinas.
No horário "mais calmo" da sexta à tarde, o americano Brian Camblin, 28 anos, levava a irmã Jamie, de 30, para comprar roupas na feira. Morador de Piraí, no Sul Fluminense, o professor de inglês Brian já até arriscou um forró "com amigas", mas a irmã limitou-se a comprar um uniforme da seleção brasileira para o marido, fã de "soccer" e "um pouco chateado" pela derrota de virada na final da Copa da Confederações.
Após o sol cair, o luar do sertão (pelo menos, no imaginário local) iluminaria mais uma noite cheia de repente e forró. E de quadrilha, cujo festival, criado em 2007, fez da feira "o maior São João do Rio", como se orgulha em lembrar Douglas Amaral, 28, morador de São João de Meriti e fundador da Quadrilha Gonzagão, grupo oficial do local.
Criado em 1998, por lei do então vereador Áureo Ameno (PP), o bairro Vasco da Gama - em torno de São Januário - não pegou nem entre os torcedores moradores, como a aposentada Nívea Gama, 74, "vascaína até no nome" e "fundadora, nos anos 1940, da comunidade Barreira do Vasco (em frente ao estádio)".
- O nome da Barreira, sim, todo mundo fala, mas o bairro é São Cristóvão mesmo, não tem jeito.
Crescimento após 40 anos de estagnação imobiliária zerados até 2005, os lançamentos imobiliários em São Cristóvão dispararam a partir de 2006, acumulando 750 novas unidades até o ano passado, segundo a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi). Foi depois que o Plano de Estruturação Urbana (PEU) do bairro saiu do papel, após ser aprovado em 2004 e ter ajustes nos dois anos seguintes.
O novo eldorado concentra-se na Quinta da Boa Vista, onde foram liberados prédios de 12 andares.
A valorização de 30% prevista no início do PEU ainda não aconteceu, segundo Rubem Vasconcelos, vice-presidente da Ademi.
- Valorização depende de crescimento comercial. Mas já é um começo, pois a legislação engesssou São Cristóvão por 40 anos - diz.
Terceira geração de uma família de sírios e libaneses, a comerciante Leila Chedid, 53, lamenta o "regresso" do Largo da Cancela, onde "fecharam dois mercados, uma Casa & Vídeo e lojas menores".
- A gente tem que sair daqui para fazer compras - conta.
O esvaziamento de São Cristóvão deve-se a um erro de planejamento, para o superintendente do Instituo do Patrimônio Histórico e Cultural (Iphan) no Rio, Carlos Fernando de Andrade, que estudou o crescimento populacional dos bairros cariocas.
- O poder público gastou dinheiro montando infraestrutura na expansão para a Barra e São Cristóvão, próximo ao Centro, com transporte e saneamento, sumiu.
Em 1991, o bairro tinha 42.958 moradores. Em 2000, só 38.344.
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